sexta-feira, 22 de março de 2013

O NASCIMENTO DA ESCRITA MUSICAL: UTILIDADES E INOVAÇÕES


Gleydson Frota e França Guimarães





Introdução


A escrita musical é uma ferramenta muito importante de comunicação entre músicos em todo o mundo, por isso existem várias maneiras de se escrever música, dentre elas, a mais usada de todas é a partitura, uma escrita fundamental devido a sua completa forma de simbologia musical; contendo notas, figuras musicais, dinâmica e outros.
Imaginando que trata-se de uma linguagem universal e uma forma singular e completa de execução de uma música, propõe se a partir desse artigo, uma breve análise sobre tal forma de escrita e a complementação com outras formas de se escrever música através dos seguintes assuntos: escrita musical: início e sua importância para o registro da história, evoluções e características da escrita musical, registrando a música na atualidade: outras formas de escrita, concluindo com as considerações finais.
Foram utilizados como referencias para fomento sobre o assunto os seguintes autores: GROUT: PALISCA (1988), CHEDIAK (1986), PINTO (ano), FARIA (2009), BENNETT (1986), além de pesquisas via internet.



1.      Escrita musical: início e sua importância para o registro da história.


Os primeiros registros escritos de música que se tem notícia na história, ocorreram ainda na Grécia antiga por volta do século I d.C.
Foi através do registro que ficou conhecido como epitáfio de Seikilos que se iniciou o processo da escrita musical que temos hoje. Segundo o site wikipédia, “o epitáfio de Seikilos é famoso por ser o mais antigo exemplo encontrado de uma composição musical completa, incluíndo notação musical e letra no mundo ocidental”. Era o registro de uma melodia de uma música grega e foi encontrada gravada em uma lápide na Turquia, tratava-se de uma homenagem a esposa de um certo Seikilos enterrada no local. Segue abaixo a imagem encontrada na lápide.
  
De acordo com GROUT e PALISCA (1988) esta música encontrada escrita no túmulo não é o registro mais antigo, porém tem uma escrita mais completa e apresenta mais facilidade de ser lida e desenvolvida musicalmente. Tal afirmação, pode ser analisada a partir desse pensamento:


O epitáfio de Seikilos, embora seja o mais tardio dos dois exemplos, será examinado em primeiro lugar, uma vez que está completo e apresenta menos problemas analíticos. O texto e a música estão inscritos numa estela ou pedra funerária encontrada em Aidine, na Turquia, próxima de Trales, e datam, aproximadamente, do século i d.C. pág. 28.



A música traduzida hoje seria transcrita da seguinte maneira:


E o texto:

Hoson zes, phainou
Meden holos su lupou
Pros oligon esti to zen
To telos ho chronos apaitei
Enquanto viveres, brilha
Não sofras nenhum mal
A vida é curta
E o tempo cobra suas dívidas

 

A partir do século IV d.C. haviam cerca de 1600 sinais, símbolos e formas de letras, possuia um sistema de notação para música vocal e outro para instrumental.

Notação com Letras:


No século IX, aparece o primeiro registro da música escrita em papel ainda com letras e observa-se que existem várias indicações, em forma de símbolos no texto a seguir relacionados à mudança de entonação vocal que em muitos casos era interpretada em forma de melisma*.





2.      Evoluções e características da escrita musical.

Nos século IX ocorre à aparição da polifonia que consistia em várias linhas melódicas executadas simultaneamente, dando origem a um novo pensamento musical com arranjos voltados para várias vozes dentro do coral.
 Em meados do século X, surge um monge italiano chamado Guido d'Arezzo que foi uma das figuras mais importantes da música em todos os tempos. Ele trouxe várias inovações que convencionaram o sistema musical e o mais famoso foi o processo de nomeação das notas musicais a partir do hino de São João Batista.

§  Ut queant laxis
§  Resonare fibris
§  Mira gestorum
§  Famuli tuorum
§  Solve polluti
§  Labii reatum
§  Sancte Ioannes

Que significa:
"Para que teus grandes servos,
possam ressoar claramente
a maravilha dos teus feitos,
limpe nossos lábios impuros, ó São João."

Esse sitema era hexacordal (seis notas), e tinha um padrão fixo de intervalos: dois tons, um semi-tom e dois tons, e de lá pra cá muitas adptações foram feitas como o acrescimo da sétima nota “Sí”, e a substituição da sílaba “Ut” por “Dó” por conta da entonação ser mais fácil.

3.      Registrando a música na atualidade: outras formas de escritas.

Atualmente existem diferentes tipos de escritas musicais que buscam “facilitar” o acesso as pessoas que não sabem ler música, da maneira formal (com o uso da partitura) a comunicação com outros músicos. Como exemplos, citaremos a seguir além da partitura, algumas dessas outras formas:

3.1  Partitura:

De acordo com a metodologia de Henrique Pinto, a partitura torna-se fundamental para ajudar aprimorar cada problema durante as várias etapas da iniciação musical violonística, pois sobre esta base irá ser construída toda a evolução instrumental dos estudantes de violão. Como exemplo, segue em anexo 3.1 a música Valsa da pág. 61 do livro Iniciação ao Violão de Henrique Pinto.
É notório que o uso da partitura é indispensável para uma leitura completa que inclua rítmo, melodia, dinâmicas, etc, pois em outras maneiras não seria possível o entendimento por completo de sua escrita.

3.2  Sistema de Cifragem:

A cifra é um sistema de leitura musical que surgiu ainda na Renascença, para facilitar a leitura de acordes no instrumento popular da época, que era o Alaúde, e até hoje tem ajudado na compreensão do pensamento musical de instrumentistas de acompanhamento harmônicos. Segundo Chediak, “cifras são símbolos criados para representar o acorde de maneira prática”. (1986, p. 75). A cifra é composta de letras, números e sinais.

A - Lá maior
B - Si maior
C - Dó maior
D - Ré maior
E - Mi maior
F - Fá maior
G - Sol maior



a)      Acrescentando a letra “m”, criam-se as cifras dos acordes menores:


Am - Lá menor
Bm - Si menor
Cm - Dó menor
Dm - Ré menor
Em - Mi menor
Fm - Fá menor
Gm - Sol menor



b)      Colocando números, letras e símbolos dentro dos acordes. Exemplos de escrita e fala:

             C7M – Dó com 7ª maior
             Dm7/9 – Ré menor com 7ª e 9ª
             G7/13 – Sol com 7ª e 13ª
             E7 – Mi com 7ª
             Bm7/b5 – Si menor com 7ª e 5ª diminuta
             Bb7/9 – Si bemol com 7ª e 9ª
             D#m7(#5) – Ré sustenido menor com 7ª e 5ª aumentada


3.3  Diagrama ou Desenho de acordes:

Nelson Faria define diagrama como uma boa maneira para exemplificar os acordes no braço do instrumento, e como exemplo, na pág. 11 de seu livro, sugere o gráfico abaixo:




Considerações finais.

Concluímos que é de extrema importância e fundamental para o registro impresso da música e para o próprio registro da história, a escrita musical. Portanto, faz-se necessário a utilização de várias linguagens musicais incluindo a partitura, a cifra e outras formas de codificar o entendimento sobre a música.
Entendemos também, que por meio dessas escritas, ocorre uma facilitação na leitura sobre a execução do instrumento, ou seja, a cifra, por exemplo, é fundamental para instrumentistas que trabalham com a leitura de acordes, a partitura é uma forma de escrita mais abrangente e completa, e por esse motivo talvez seja a mais utilizada em todo mundo.

Referencial Teórico

·         CHEDIAK, Almir. Harmonia e Improvisação I. Editora Lumiar. Rio de Janeiro, 1986.
·         PINTO, Henrique. Iniciação ao violão: Princípios básicos e elementares para principiantes. Editora Ricordi. (ano).
·         FARIA, Nelson. Harmonia aplicada ao violão e à guitarra. Nelson Faria produções musicais. Rio de Janeiro, 2009.
·         BENNETT, Roy. Uma breve história da música. Jorge Zahar Editora. Rio de Janeiro, 1986.
·         GROUT, Donald; PALISCA, Claude. História da música oicidental. Gradiva. Rio de Janeiro, 1988. Pág 21-31.
·         Apostila com conteúdo extraído do curso de extensão em História da Música da professora Adeline Stervinou.
·         Acessado em 20 de junho de 2012http://www.clem.ufba.br/bordini/not_mus/hist.htm
·         Acessado em 20 de junho de 2012 http://pt.wikipedia.org/wiki/Epit%C3%A1fio_de_Seikilos




*Melisma é um grupo de notas ornamentadas de uma melodia, cantadas em geral como forma de vocalização usada no canto gregoriano.

Um comentário: